Rua do Arsenal é uma errância numa cidade interior e exterior que tem nos poemas iniciais um sopro de sagrado e um passo peregrino para depois se vir espraiar por Lisboa, cruzando notações quase triviais com o que de interrogações e sofridas angústias se faz a poesia. Ao longo das suas páginas existem dois poemas mais longos e que funcionam como alicerces da estrutura narrativa: um é a reconstrução poética da Rua do Arsenal (mais histórico e político), o segundo é sobre o Cais do Ginjal (mais onírico e visual). Poemas em margens diferentes, quase como paralelas, em margens opostas (como antípodas). A palavra Arsenal não funciona apenas no sentido literal e geográfico, mas como sujeito lírico em diálogo com o «objecto observado que é a cidade».